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Foto do escritorGoretti Giaquinto

Amor de Infância, Crush na Maturidade

Atualizado: 16 de mai.


Um casal se reencontrando em um bar, lembrando de um beijo roubado sob uma mesa escolar.
Dizem que a Disney é culpada pelas histórias com finais felizes... (Imagem IA/DALL-E 3 ajustada no Canva)


PARTE 01 - ATÉ SÁBADO


Numa época de matches para encontros, nem sempre os finais de semana são os preferidos. Não só pela urgência de saber quem está realmente do outro lado: o outro pode não ter sábado ou domingo disponível. É o risco do encontro através desses aplicativos.


Quem não se arrisca não petisca, diz um provérbio antigo — mesmo desconhecido para os jovens, eles agem assim. Os jovens e os não tão jovens, afinal, a época também é de indisponibilidade de pares perfeitos.


Clara sabia, e arriscava. Já tinha passado daquela idade de esperar sentada pela alma gêmea, após ter passado por dois relacionamentos desfeitos, onde apostara tudo. A filha apoiava a ideia da mãe em buscar um par. Até a ajudou na inclusão em sites, selecionando os matches da mãe e dando dicas. Experiências compartilhadas, mãe e filha iam em frente na tentativa de acertar no amor.


A faixa etária de Clara era mais complicada. Aos 50 anos, com dois casamentos frustrados, ela tinha exigências para não perder tempo ou esperança. Sabia que havia arapucas, torcia para não cair em nenhuma. O apoio da filha a tranquilizava.


Os matches eram esparsos. A idade atrapalhava ou selecionava. Uma foto chamou sua atenção, traços conhecidos pareciam presentes. E deram match. Mensagens iniciais trocadas. Primeiro encontro marcado para o sábado — um bom sinal, homens casados evitam encontros em fins de semana. Restava torcer para o original coincidir com a foto no aplicativo.


Clara não criava expectativas há muito tempo. Os relacionamentos anteriores, que pensava serem eternos, terminaram de forma desastrosa. Encontrar alguém, nessa altura do campeonato — idade e descrença — era uma loteria. O relógio biológico e a alegria de não se dar por vencida ajudavam a ir em frente na busca.


Dessa vez, nesse encontro, sua intuição estava inquieta. As fotos mexeram com lembranças do passado, de um tempo em que a ingenuidade ainda existia, intacta. O shopping onde marcaram o encontro era próximo, combinou com a filha alguns sinais de ajuda necessários nos tempos modernos. No horário e local combinados, os dois se encontraram.


Marcos — se fosse o nome real — a esperava sentado à mesa da praça de alimentação. Vestia jeans e camiseta, tênis. Uma barba bem-feita, com fios grisalhos unidos aos demais de seus cabelos ainda fartos, formavam um belo conjunto. O original era real. A foto não mentia. O nome era verdadeiro.


Dois beijinhos nas faces, reconhecidas, a conversa logo levou a perguntas para tirar dúvidas. Clara e Marcos tinham estudado juntos no colégio, há mais de quarenta anos. O primeiro beijo de ambos aconteceu atrás de uma mesa escolar, no horário do recreio, com seus corações aos pulos pelo momento especial e pelo medo de serem pegos.


Ambos tinham se reconhecido, mas temeram falar antes para não se entregarem ou se decepcionarem por antecipação. Passaram horas conversando, como se o relógio tivesse parado no tempo em que tinham se conhecido, no passado. Clara se sentiu adolescente com o reencontro. Mas a intuição ainda estava inquieta. E não costumava falhar.


Decidiram marcar outro encontro, dessa vez num restaurante menos agitado. Clara preferiu não estender o encontro inicial, por conselho da filha experiente em aplicativos de namoro. E queria ter explicações da intuição, sem pressa. A despedida selou suas bocas e prometeu agitar o dia seguinte.




 


PARTE 02 - QUE VENHA O DOMINGO


O domingo amanheceu solar. Clara conversou com a filha. Queria entender o que a incomodava. Tentou se lembrar do primeiro beijo e dos acontecimentos que afastaram os enamorados na infância, até o momento do reencontro.


Marcos mudou de colégio e de cidade, o pai era militar e era transferido após um período na mesma cidade. O beijo trocado tinha deixado gosto, mas não se repetiu. O destino trouxe vários acontecimentos na vida de ambos.


E agora, Clara sentia a mesma emoção, mas algo a alertava. A filha a ajudou a esclarecer. Uma breve pesquisa na internet trouxe os fatos. A facilidade da tecnologia não deixava ninguém sem rastros.


Clara descobriu o casamento de Marcos. Seus filhos. Nada disso ele havia dito, no encontro anterior. Ela se decepcionou. A filha a consolou. A dúvida estremeceu sua alegria do reencontro. Mas a intuição continuava irrequieta, ante o novo encontro antes tão aguardado.


Podia não ir ao encontro, bloquear Marcos e continuar na busca sem maiores expectativas. Como antes. Ou podia ir, fingir nada saber e fechar o ciclo de um beijo remexido, sem resposta há tantos anos, agora remexido. A menina inexperiente e a mulher madura se debatiam. O que fazer? Pensava. Lembrava do beijo inicial, do beijo selado no dia anterior, da bagunça que a descoberta da mentira estava causando nas suas emoções.


A criança havia se transformado numa mulher decidida. Isso a fez escolher ir ao encontro. Tomaria satisfações, falaria o que viesse à cabeça e largaria Marcos lá, numa vingança por todas as mulheres que, na sua idade, ainda acreditavam em homens honestos e amores reencontrados na maturidade, para viver o inacabado.


Escolheu a melhor roupa — a que mostrasse sua sensualidade com recato de mulher com amor-próprio — e foi ao encontro. Sentia-se tranquila, empolgada por ter o controle da situação. Em alguns momentos, a menina ingênua se vingaria.


Marcos estava sentado, com um copo de vinho na mão, e se dirigiu até ela, quando a viu chegar. Seu rosto parecia tenso. Sem beijos, puxou a cadeira para ela sentar. Um silêncio constrangedor parecia nublar a alegria anterior do reencontro.


Clara esperou. Queria dar chance a ele, antes de metralhá-lo com a vingança maquinada.

Marcos continuava mudo, fitava-a com o mesmo olhar de menino que a conquistara no colégio.


Talvez não houvesse necessidade de explicações, Clara pensava. Podia se levantar, dando uma desculpa qualquer, sem destruir a memória do primeiro beijo. Continuaria com o controle da situação, e fecharia o ciclo de um passado que não teve continuidade.

— Clara, eu preciso dizer uma coisa.

— Estou escutando.

— Acabei de me separar. Não contei ontem porque não queria estragar nosso reencontro. Os papéis do divórcio foram assinados — mostrou a foto para comprovar o que dizia.


Clara esperou que continuasse. Estava aliviada. Sorriu.  Acreditava nele.

Marcos não falou mais nada. Buscou a reparação do beijo que não repetiram, no passado. Não queria deixar passar a nova chance. Não deixaria outros matches embaralharem o futuro. Não agora.




 

Goretti Giaquinto

Desafio #109 e #110 de 365

Tema: Fim de Semana com o Crush

1 - A história deve se passar em um único fim de semana, do início ao fim;

2 - Os personagens principais devem se conhecer ou se reencontrar durante esse período;

3 - O clima do fim de semana deve refletir a relação dos personagens, seja caloroso e romântico ou tenso e repleto de emoções contraditórias;

4 - Caracteres e Formato Livres.

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3 Comments


Não conheço sua tia, mas ela deve ter muitas histórias pra contar 😉😂😂😂

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Bob Wilson
Bob Wilson
Apr 23
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Ela deu certo. Achou um crush da antiga e estão até hoje juntos 😍

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Bob Wilson
Bob Wilson
Apr 22

Parece a história da minha tia rs. Pior que é verdade! Muito bem narrado. Me senti vivendo novamente um período que já vivi. Gente, você conhece a minha tia?



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