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Foto do escritorZaira em Conexões

Confusão no Busão

Levantei atrasado. Isso está acontecendo toda segunda-feira depois do final de semana intenso de babados fortes, estou cansadíssimo.


Vesti a roupa, catei um pedaço de pão amanhecido, mochila das costas e bora "prô" ponto de ônibus.


Passa um LO-TA-DO, nem posso me dar o luxo de esperar o próximo, meu chefe vai comer o meu fígado. Quase entrei, fiquei pendurado na porta do lado de fora com o ônibus em movimento, minutos depois que as pessoas à minha frente se espremeram como sardinhas enlatadas eu entrei e lá fiquei. Conforme o ônibus foi andando, eu consegui tirar a mochila das costas e ficar mais perto da catraca.


O ônibus de manhã é um lugar incrível, ou encontro pessoas felizes e de bem com a vida ou somente pessoas de mal com a vida, caras carrancudas que nem um bom dia dá.


"Tava" eu ali com cara de sono, corpo dolorido, mas "feliz" da vida por estar sendo "amassado" por todos que ali passavam, como se meu corpo estivesse sendo massageado fortemente por um elefante.


Enquanto me sentia felizão fazendo parte de um filme na Índia tive a visão do inferno, vi meu ex sentado belo e formoso no banco alto da discórdia.


Não me pergunta como cheguei lá e pulei no pescoço daquela criatura. Quando percebi tinha passado a catraca e estava olhando furiosamente para ele, com seu topete e peito estufado parecendo uma mistura de pombo com pavão. Não aguentei, meu corpo foi maior que meu cérebro, fui tomado de um momento de fúria.


Ele me segurou pelo braço, olhou nos meus olhos e disse bem alto: "Foi por isso que deixei de te amar, você é impulsivo". Me levantei do seu colo, peguei a mochila, dei sinal, desci três quadras antes do meu ponto e fui caminhando pelas ruas estreitas até chegar no trabalho, lembrando das caras debochadas das pessoas que estavam dentro do coletivo.


De cabeça baixa fui caminhando pensativo e com a certeza que dali para frente iria à pé todos os dias, trocaria de cidade, mudaria de trabalho para nunca mais me encontrar com ele, nem com as pessoas que estavam naquele ônibus.


De todas as projeções futuras só tinha a certeza que voltaria para a terapia. Caos, já chegam os meus internos e feridos. Quero ser melhor, um jovem melhor.

Para hoje, meu dia estava acabando, ferido e sangrando. Amei tanto ele, sem dizer que podia ser um romance, talvez um amor mais do que platônico. Queria ser amado, desejado mesmo sendo escandalizado, afinal, eu não tenho que me encolher para caber na vida de ninguém; nem dele.


Enlouqueci no meu caos e no caos social, não quero mais perder a cabeça por nenhum amor que não vale à pena.



 

NOTA DA EDIÇÃO:

Não era para ser um texto romance do caos, mas foi inevitável, não me aguentei.

Jamais encontraria aquela criatura abominável num coletivo hoje em dia, por isso foi interessante colocá-lo neste texto. O que mais seria um caos interno ou social se não fosse um caso de amor acabado? Nem todos terminam em amizade, muitos terminam de forma trágica ou melancolicamente terminados.



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