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Foto do escritorGoretti Giaquinto

De Gata Borralheira a Princesa


Gatinha com sonho de ter uma madame pra chamar de sua
De Gata Borralheira a Princesa ... Por que não acreditar? (Imagem IA da plataforma DALL-E 3)



Meu nome é July. Eu me dei esse nome. Tenho bom gosto, apesar de gata de rua. Cresci dividindo um beco sujo com mais 4 irmãos. Fomos 6, mas dois não resistiram de cara. Morreram de frio e de fome. Não conhecemos nosso pai. Ele sumiu. Sei que alguns humanos passam por isso. Como gata de rua, aprendi cedo a ser independente. Fui aprendendo a me virar pra viver. Muitos perrengues. Nem sempre achava comida. Alguns humanos também passam por isso.


As vezes me pegam na rua, e me colocam para adoção. Sou uma gatinha bonita. Sem falsa modéstia. E acho que mereço ter uma família humana que me dê bastante amor. Mas parece que  os humanos preferem os caninos,  são mais meigos, dizem na minha cara. E solto pelos. Como os humanos, que soltam puns e palavras agressivas que se espalham e agridem mais. E ninguém é abandonado por isso.


Hoje, na feira de adoção, uma senhora se aproximou do cercado, me olhando já de longe. Senti um calafrio. Seria a minha vez? Os caninos pulavam, saltitantes na esperança que logo se concretiza, para eles. Eu e um outro felino nos recolhemos, nossa esperança não tá nos melhores dias. Somos realistas. Acham que somos mais frios, que não criamos vínculo com humanos. Preferem os filhotes, escolhem pela carinha de pidão que os caninos sabem fazer tão bem. Sabem de nada!


A senhora se aproximou. Meu coração bateu forte, sem me pedir permissão. Tentei sustentar o olhar, maneirando na minha fama de ser esquivo como a raça. Ela me pôs delicadamente em seus braços enrugados. Senti seu coração batendo forte, também. Acho que criamos uma conexão. Dizem que os gatos são proteção espiritual, sentem a energia dos humanos. Tô começando a acreditar. Nunca senti algo assim por um humano.


Foi tudo muito rápido, e de repente estava num carro chique, indo com minha nova mamãe pra casa. Eu, um pouco desconfiada, pelo passado sofrido, senti que ela também tinha algo doloroso, pelo carinho com que me envolveu em seus braços. Me senti acolhida desde seu primeiro toque.


Agora, tenho casa, comida, e carinho. Me sinto uma gata especial, por ter sido escolhida por um humano especial. Virei gata com dona. E sou dona de um coração sensível, que viveu amarga como eu, por muito tempo. Nos encontramos. Eu me reencontrei.


Sou gata de madame. Da madame que tem um tesouro no coração, e que decidiu dividi-lo comigo, uma gata borralheira. Encontrei a minha rainha. Que não olhou manchas no meu corpo, minha cor, meu passado de rua. E me deu o nome que eu escolhi. Agora, sou princesa July.



 

Goretti Giaquinto

Desafio #48 de 365

Tema: Dia Mundial dos Gatos

Você agora é um gato/a. De rua ou de madame. Escreva um conto de até 1500 caracteres sobre sua vida como esse/a gato/a.



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1 Comment


Cátia Porto
Cátia Porto
Feb 20

Que lindo! A July viveu um conto de fadas com um final feliz! Tão bom se fosse assim com todos os bichunhos de rua...

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