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Foto do escritorGoretti Giaquinto

L'universo Cospira a Mio Favore


Uma mulher com envelope na mão, a outra mão no rosto demonstrando dúvida, ante uma imagem de uma cidade cortada por um rio)
Qual o melhor caminho? (Imagem IA gerada em DAA-E-3, inspirada pela autora)

Às vezes eu me pergunto se estou no caminho certo. Mesmo a essa altura de vida, nos +6.0. Acho que muitas pessoas pensam nisso. Não só nessa faixa etária. Mas, não vejo discussão sobre o propósito de vida, sobre a missão, entre os jovens de hoje. Talvez minha geração seja a última que pensa sobre isso, ainda.


São coisas que, quando somos jovens, não pensamos muito, mas, quando a gente parte para o “final das nossas vidas”, isso começa a pesar. Eu me pergunto o que eu queria ser, quando criança… pintora, desenhista, estilista de moda?


Numa época, eu me vi na decisão entre continuar o trabalho como arquiteta ou partir para uma guinada na minha vida. Estava sofrendo com a vida que levava, e me inscrevi para bolsa de estudos na Itália.


A Itália sempre foi um sonho de vida escondido num desses genes que desconhecemos e dão as caras em algum momento. Sou neta de italiano. Cresci com meu pai fazendo gnocchi. Até participei de um grupo de danças folclóricas, dançando a tarantela. Amo gnocchi, gelato, risotto, lasagna, bruschetta, pizza, tiramisù.


Coincidentemente, no mesmo período, eu me inscrevi para um concurso público — fiz a prova e achei que não ia passar, pois era de uma área que não tinha nada a ver com o que eu gostava. Mas tinha um salário razoável, e uma área de engenharia que me animou a tentar e, depois, me "infiltrar".


No mesmo dia que recebi a carta referente à bolsa de estudos, eu soube que tinha passado no concurso público. Antes de abrir a carta com a resposta, eu fiquei me perguntando: se for sim, eu irei? O concurso me faria mudar para uma pequena cidade do interior nordestino; a bolsa, me faria mudar para o continente europeu. Para ambos, eu iria sozinha. Eu não sabia responder qual das duas opções seria melhor para mim.


O Brasil da época estava passando por uma crise econômica severa — outras viriam depois, eu não sabia. Eu contava o dinheiro para pagar as contas, não tinha carteira assinada e o escritório de arquitetura onde eu trabalhava desde a faculdade não me valorizava. A área do concurso era totalmente nova: atividade bancária. Lidar com dinheiro (dos outros), datilografia, empréstimos, vendas de serviços. Lidar com um público exigente, desconfiado —época onde não havia serviços online nem aplicativos como os de hoje.


Ir para a Itália parecia atrativo, mas viveria do dinheiro da bolsa de estudos, de dois anos, estudando e apresentando o trabalho final do projeto para o qual eu tinha me inscrito — na área de História da Arte.  Também me afligia o perigo das massas italianas — eu brigava o tempo todo com a balança —, a dificuldade do idioma — com que eu não conseguia afinidade. Estudei italiano por dois anos, e minha dificuldade com as regras de gramática me fizeram desistir. E havia a distância física da família, quilômetros maiores que o da cidade nordestina para a qual fui destacada, no concurso. Para isso, eu até daria um jeito. Mas, e depois dos dois anos?


Entre o momento de rasgar o envelope com a resposta da Itália, e ler o conteúdo, muita coisa passou pela minha cabeça. Não tinha respostas para as perguntas que me fazia. Confiei no “destino” para me apontar o caminho certo para mim. Dois “sim” seria complicado, e o “não” da Itália foi, de certa forma, um alívio para a jovem aventureira que eu ainda não era.


Tive outros desafios, outras escolhas, e mudanças radicais depois desse impasse juvenil. Mas, para esse dilema, se a decisão tivesse sido outra, eu nunca saberei o que o universo me traria. Talvez eu virasse uma “mamma” rodeada de italianinhos, com um rolo e farinha nas mãos, despreocupada com regimes e preocupada com a extensa prole. Teria me casado? Tido uma carreira profissional? Difícil saber.


Arquitetura da época não tinha os softwares que facilitam projetar, como hoje. E a área de Artes ou Moda, na época, não era mais fácil que aprender a ser bancária, e sonhar em entrar na área de engenharia da empresa. Isso, eu consegui, após longos anos tentando. E trouxe uma aventura maior a desbravar, além de outras histórias não tão artísticas.


Meu jeito de ser, ainda hoje, impõe ter os pés no chão, estabilidade, planejamento. Já fui um pouco aventureira, saindo de casa e indo para longe, mais longe do que imaginara. Penso muito antes de tomar uma decisão, mas me deixo levar pelo coração, muitas vezes, confiando na intuição — que me surpreende com respostas não tão diretas, tampouco óbvias.


As mudanças fazem parte de minha vida, e eu aprendi isso na marra. Para cada “não” que dei, abriram-se muitas possibilidades. Para as que eu disse “sim”, acabei aqui.


Olhar para o passado me deixa tranquila, sem arrependimentos. Não me tornei acomodada, nem me deixo guiar pela impulsividade — principalmente na idade que estou. Ainda me faço perguntas, e, para as que não tenho respostas, me acostumei a “soltar para o universo”. Ele me conhece mais que eu mesma. E ainda tenho estrada pela frente.


Quanto à Itália— conheci algumas cidades,

e está nos meus planos conhecer outras. Um dia.

Aspettami!

 





 

Goretti Giaquinto

Desafios # 170 a 173 de 365

Tema: Quem Eu Seria?

1. Escreva em forma de prosa quem você acredita que poderia ser nos dias de hoje caso tivesse optado por outros caminhos profissionais, de estudo e sociais.

2. Escreva em forma de prosa quem você acredita que poderia ser nos dias de hoje caso tivesse optado por outros caminhos profissionais, de estudo e sociais

3. Em seu texto, demonstre a todos os motivos de suas escolhas e se faria algo diferente. Caso sim, explique o motivo.

4. Não seja superficial. Busque explorar todos os campos da sua vida e apresentar aos leitores os diferentes caminhos que a vida poderia ter te levado.

5. Caracteres Livres.

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