- Eu vi que foi você! - Eliana estava com o dedo indicador apontado para o rosto de Rogério.
- Você está delirando! - foi a única resposta que Rogério apresentou.
Os dois estavam sentados tomando café da manhã, e o dia já prometia ser tenso. O debate prometia estender pela manhã afora, no dia ensolarado de domingo. A discussão foi ficando acalorada, os dois quase a ponto de se esbofetearem. Guardanapos de papel voaram pela sala, e os dois levantaram da mesa, a caminho da varanda da cobertura, localizada no nono andar do prédio mais elegante da rua.
- Você sabe que eu sou louca por isto. Comprei ontem e escondi na despensa para ninguém achar, e agora está quase no fim! Eu quase não comi, e não tem ninguém morando aqui fora nós dois. Se não fui eu, é claro que foi você. Admita!
- Eu não admito nadinha, pare de ser paranóica. Você deve ter comido durante a noite, num dos seus episódios de sonambulismo.
- Agora você me chama de doida e sonâmbula?? Eu era excêntrica e energética, pelo menos era o que você me dizia antes de casarmos.
- Disse o que você queria ouvir. Deu certo, não foi? Casamos. Se eu soubesse que você era esta maluca, teria pulado fora há muito tempo. Vá ser doida assim ...
Não chegou a completar a sentença. Eliana jogou nos seus olhos o resto de cereais da caixa aberta um pouco antes, ele não viu que estava à beira do muro da varanda de vidro, que tinha custado uma fortuna e dado um trabalhão para ser levado para a cobertura. Sem enxergar mais nada, voou no espaço ainda gritando: "você me paga, sua doida!"
A polícia estava no local do crime, chamada pelo vizinho de baixo, que acordou com os gritos vindos da cobertura. Rogério estava na calçada, estatelado no chão. Ao virarem seu corpo, ele estava abraçado ao pacote de biscoitos oreos que havia escondido atrás do pijama, para comer escondido, mais tarde. Morreu, mas levou com ele o objeto da discussão. Teve a última palavra.
Gattorno Giaquinto
# desafio 12: Meu cômico crime
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