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Foto do escritorJean F.V.Oliveira

O véu - Parte 2




      Estava na praia quando aconteceu. Tinha brigado com Felipe não fazia uma hora e resolvi parar no quiosque para refrescar a cabeça com uma água-de-coco.  Estava de pé no calçadão imaginando que não viajaria nesse feriado de carnaval e tão nervosa com ele por me fazer remarcar todos meus clientes do consultório por nada. De onde eu vinha o homem que não cumpria sua promessa perdia um dedo da mão.


   Então eu vi da linha entre o mar e o horizonte surgir aquela densa neblina que se parece com um líquido e sob um sol de 35°C eu senti meu corpo inteiro esfriar.


   - Não aqui! Os planos físicos deveriam estar a salvo do caos... – Pensei alto. Tinha de achar Felipe imediatamente.


   O rasgo no véu parecia estar se abrindo rapidamente e algumas pessoas já curtindo o feriado na praia começaram a perceber o que estava acontecendo no horizonte. Algumas não eram capazes de ver sendo fechadas espiritualmente e as que viam já estavam com o celular na mão fazendo fotos e vídeos. Em poucos minutos estaria nas redes sociais e então seria notícia se já não fosse. Senti a necessidade de achar Felipe imediatamente e então ali ele estava na beira do calçadão olhando para o celular distraído de tudo ao seu redor. Típico.


   -Vamos embora! O caos chegou!


   -Olha amor não precisa ser dramática, ok? Nós vamos viajar!


   -Se não formos embora daqui agora nós vamos viajar mesmo e vai ser mais longe de Vitória do que imagina!


   - O que é...? – O queixo dele caiu quando percebeu que a água do mar estava ficando escura com a contaminação da névoa escura. 


   - Aquilo é um rasgo no véu dos planos meu amor. Tudo que você conhece vai mudar a partir de agora. Anda logo vamos sair daqui! – Puxei ele pelo braço e fomos em direção ao prédio do nosso apartamento.


   - Débora o que está acontecendo?


   - Sei que não estava animado a viajar, mas agora sair daqui de perto do mar é essencial para nossa sobrevivência.


   - Já disse que íamos! Agora o que era aquilo no mar? – Felipe nos parou na portaria e pegou minhas mãos entre as suas e me olhou nos olhos. Sua expressão era de pura preocupação. – Fala comigo meu amor. Eu nunca te vi tão assustada.


   - Demoraria muito tempo para te explicar que o que viu é o fim. É imparável, imbatível e não sei a origem exata. Sei que se tocar em qualquer um dos seus sentidos sua existência desaparecerá. Se eu não tivesse tirado da sua linha de visão com meu toque provavelmente você estaria nadando em direção daquilo nesse momento. Consome tudo pelo caminho, mas demora um certo tempo e essa é nossa única vantagem. – As palavras saíram de mim como um desabafo e por mais que não quisesse preocupa-lo era impossível não perceber o medo em minha voz.


   - E como sabe sobre tudo isso?


   - Já te disse que não sou daqui, não é mesmo? – Tentei sorrir.


   - Sim meu amor você é do interior de Minas Gerais. Esqueci o nome da cidade agora...


   - Não importa Felipe. Eu cheguei “aqui” por lá então não menti quando disse que sou do interior de Minas, porém minha origem é um pouquinho mais distante...


   - Quer dizer o que com isso? – Soltou a minha mão e uma expressão de desconfiança passou por seus olhos.


   Várias pessoas passaram correndo pela rua em direção à praia algumas vestidas com fantasias de carnaval. Os bloquinhos começariam daqui a pouco e todos estariam correndo perigo, mas infelizmente não havia nada que eu pudesse fazer por eles. Tentaria salvar Felipe se ele viesse comigo.


   - Vocês dois vieram da praia?! Tá todo mundo postando sobre a atração especial de carnaval já viram?! – O portei veio mostrar o celular passando um vídeo da neblina atingindo a areia da praia e pessoas sumindo para dentro dela.


   - Felipe por favor! Vamos para o carro, não temos muito tempo. – Saí andando em direção a garagem. Teríamos que pegar a beira mar para sair da cidade pela Norte-sul e se demorássemos mais não haveria mais beira mar.


   - As malas já estão carro, vamos. Seria uma viajem surpresa para o Rio de Janeiro...


   - Não! Precisamos ir para longe do mar. Alguma cidade alta e de preferência no interior onde a véu é menos denso. – Entramos no carro e em menos de dois minutos estávamos passando novamente pela orla da praia.


   A neblina densa e preto-arroxeada já cobria quase metade da extensão da areia da praia enquanto todos se divertiam com o início do carnaval ainda alheios ao perigo que corriam.


   - Podemos ir para Santa Tereza. Tenho a chave do escritório de lá desde a última reunião na unidade. – Felipe fazia parte de um dos maiores escritórios de arquitetura do Espírito Santo. – Temos quartos para hospedes, podemos ficar em um deles.


   Tomou minha mão novamente e a beijou e eu retribuí o gesto. Me olhou nos olhos por um momento mais longo do que uma direção prudente permitia. Estava calado e olhava para mim a cada dez segundos. Já conhecia esse comportamento e sabia que ele estava esperando uma explicação. Demonstrava plena confiança em mim e esperava ser retribuído. Paramos no último sinal vermelho antes de seguirmos em direção a rota Norte-sul e abandonar a orla. Olhando para frente comecei a falar sentindo seu olhar em meu rosto.


   - Quando escapei do caos pela primeira vez estava sozinha Felipe. Fugi sem olhar para trás para salvar somente a minha vida e quase não consegui. Agora tenho um motivo maior para sobreviver novamente. – E coloquei minha mão livre sobre o ventre. Ele respirou profundamente e sem dizer uma palavra acelerou o carro.   



 

O que separa o nosso mundo do mundo espiritual? E se essa barreira falhar? Uma misteriosa névoa surge e coloca em risco a vida de todos. Na esperança que se divirta em cada território de "Os Planos".

  

 

    

1 comentário

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1件のコメント


Raquel Vitória
Raquel Vitória
4月16日

Segundo conto nao deixou a peteca cair. Maravilhoso outro a vez ! que delicia de historia ! Ainda que assustadora

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