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Foto do escritorGattorno Giaquinto

Perdida no Espaço


Sempre quis ser astronauta. Treinei muito, fui a única mulher da turma. Superei muitos obstáculos. Mas este último, não sei se conseguirei superar. Talvez, minha vida termine agora. E ninguém vai dar por minha falta.


Fomos ao espaço para visitar a estação russa, que estava precisando de manutenção. Meus colegas e eu partimos há um ano atrás, no tempo-terra. Quatro homens e eu, única mulher do grupo. Tudo estava indo bem, até que um deles começou a soltar piadinhas machistas, e eu me senti insultada. Gritei, e os outros três tomaram partido do colega instigador. Os quatro voltaram-se contra mim. Resultado: resolveram me deixar na estação - não antes de danificar os meios de comunicação com a terra.


Não os vi partir, pois me doparam. Acordei, senti que estava sozinha, tentei me comunicar com a Terra - nada. Mesmo treinada para lidar com possíveis acidentes, pânico tomou conta de minha mente. "Pense, Jennifer. Como você vai restaurar comunicação com a base? Que sinais você pode enviar para satélites?" Raciocínio fervendo, coração palpitando, boca seca. Não coseguia pensar em nada.


Angustiada, resolvi parar e refletir, avaliando a situação. Quanto tempo até alguém dar por minha falta? Quanto tempo teria de mantimentos e água? Quais os perigos soltos no espaço? Como estaria minha saúde mental depois de alguns dias?


Relembrei aquele filme O Marciano. Pelo menos, não estava em Marte. Não precisaria usar meu excremento para plantar batatas- a estação era no espaço, nenhuma terra à vista. Consegui checar por quanto tempo teria água e mantimentos, mas minha sobrevivência dependeria de outros astronautas visitarem a estação, ou a NASA mandar ajuda. E eu não sabia se isto aconteceria.


Para passar o tempo, enquanto nada acontecia, fiz exercícios - sei que vou perder massa óssea e muscular, mesmo me exercitando. Alguma dopamina me deixaria menos deprimida, pelo menos. Racionei os mantimentos, comendo apenas uma vez por dia - enganava a fome visualisando comida e me sentindo satisfeita.


Os dias e meses passando, minha angústia crescendo. Vendo os mantimentos acabarem, água também. Estou perdendo peso, minha pele está cheia de feridas. Não tem espelho por aqui, mas sei que estou muito abatida. A depressão está tomando conta do meu ser. Tenho pesadelos, onde estou morrendo asfixiada, emaciada. Estarei ficando louca?


Estou alucinando agora. Imagens de minha vida passada passam como day-dream. Não sei se são pesadelos ou reais. Escuto barulhos que não sei definir. Agora mesmo estou ouvindo. Parece que tem alguém abrindo a estação. Vejo uma luz imensa e seres entrando. Serão aliens? Falam comigo, não entendo o que dizem, não consigo articular palavras. Acho que gritei por socorro. E desmaiei.


( Leitura informativa sobre o que acontece na terra x espaço)


 

Entre 3 meses no mar, com o sol batendo na pele, sem água potável, e provavelmente tubarões circulando 😥, escolhi passar um ano no espaço - pelo menos, voltaria alguns minutos mais jovem😉.

 

Gattorno Giaquinto

Desafio#96/365: Pura Angústia

1.Escolha entre: Ficar no espaço por 1 ano sozinha OU à deriva no mar por 3 meses;

2.Escreva um mini-conto livre de caracteres que transmita a angústia da situação escolhida.


Escrever sobre sentimentos é sempre complicado. Sentimento é algo que não se simula. Difícil falar sobre eles se não vivemos.

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