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Foto do escritorBob Wilson

Quando o Eleitor é Nocauteado Por Uma Cadeira

É... Parece que chegamos ao ponto em que os debates políticos viraram arena do UFC verbal  e, aparentemente, físico. O que rolou ontem no debate para a prefeitura de São Paulo foi um reflexo perfeito do nosso estado político: Luiz Datena, aquele que se diz "povo" e que adora e não perde a chance de dar um show midiático, resolveu que estava na hora de apelar pro método WWE e lançou uma cadeirada no Pablo Marçal, depois de ser provocado. Uma cena tragicômica, digna de meme, mas também de profunda reflexão.


Crédito: Tv Cultura/Reprodução


Que o desgraçado do Pablo Marçal não é exatamente a figura política, e o ser humano mais querido, todos sabem. Desde que surgiu, ele é aquele personagem que todo mundo pensa: "Cara, como que isso aconteceu?”. Marçal é o exemplo vivo do "outsider" que cresceu no vácuo da desilusão política e social do brasileiro, e da esperança milagrosa da ascensão social. O cara vem de uma escola que mistura autoajuda barata com aquela velha narrativa de “você pode ser o próximo milionário se me seguir no Instagram”. E agora, de repente, lá está ele, tentando governar São Paulo. A pergunta que não cala em mim é como um cara condenado, que rouba e engana a todos abertamente tem espaço dentro de um partido político, consegue ter autorizada sua candidatura e consegue ter seguidores e apoiadores?


Dizer que o Datena fez o que muita gente gostaria de fazer — uma reação quase visceral à figura de Marçal — é verdade. Eu mesmo adoraria colocar a boca desse rapaz numa quina de calçada e dar uma pisadinha na cabeça dele (desculpa, pesado). Mas, tenho consciência que isso não deve ser feito, que não levará o país a lugar nenhum, e que não devemos aplaudir a violência. Afinal, é com esse tipo de comportamento que extremismos crescem e onde esses candidatos extremistas ganham eleições (vide 2018). Se a moda pega, a política vai ser literalmente uma arena de gladiadores.


O Brasil já flerta com o extremismo há tempo suficiente pra gente saber onde isso vai dar. Pablo Marçal, Jair Bolsonaro, Donald Trump... Esses caras não têm uma ideologia política profunda, nem um plano coerente para a sociedade. O negócio deles é alimentar o caos, a dúvida, o ódio. E eles fazem isso com as ferramentas modernas do engano: fake news, manipulação da máquina pública, distorção da realidade. O povo, cansado de políticos tradicionais, desesperançado com a corrupção e a falta de resultados, acaba se agarrando a essas figuras que prometem mudar tudo. Mas, na real, esses "outsiders" são só lobos em pele de cordeiro. Eles dizem que não são políticos, que são de Deus, amam a família (mesmo se casando 4 vezes, batendo em mulher, traindo com atriz de filme pornô…), mas o que estão fazendo ali, senão política da pior espécie?


O Datena, com sua cadeirada, só reforça a imagem de uma política machista degenerada, onde o debate de ideias cede lugar ao show de horrores. Não duvido da dor do Datena sobre ver um cara trazendo pro público uma questão que já foi arquivada e que tirou a vida da sua sogra. Mas não acho que essa cadeirada (que nem quebrou uma costela do desgraçado), vá ajudar ele, o povo ou a cidade de São Paulo. 


E o que vemos hoje nas redes sociais e televisão? O povo rindo, compartilhando no grupo da família, centenas de memes… Não acho engraçado nem por um segundo essa …situação. Será que é isso que queremos pra nossa democracia? Será que é isso que queremos que nossos filhos e filhas aprendam? Será que é assim que queremos resolver as coisas? É esse o nível do debate e candidatos que vai decidir os rumos da cidade e do país? Talvez seja hora de pensar em como evitar que personagens assim, sem preparo e sem respeito pela democracia, sequer cheguem ao palco dos debates.


Hoje, esse bandidinho que estava voltando a cair nas pesquisas, voltou a ter palco. O que as próximas pesquisas vão nos trazer de respostas? Será que ele vai voltar a crescer nas pesquisas? Será que o próprio Datena vai crescer nas pesquisas? 


A solução para este problema não é simples, mas passa por endurecer as regras para candidaturas. Candidatos extremistas, que disseminam fake news ou que claramente usam a máquina pública pra espalhar mentiras, deveriam ser barrados já na largada. Mas, ao invés de reformar o sistema político, estamos dando palco para esses “falsos messias” que crescem sobre a desilusão do povo. 



Precisamos encontrar uma forma de ampliar a educação política, exigir mais transparência, cobrar mais responsabilidade da mídia e nós, o tal do “Povo” precisamos entender que nem tudo é piada. Nem tudo é para virar meme. Esqueçam a cadeirada. Ela, os memes e as piadas não vão salvar a cidade de São Paulo. Sabemos que para ter views precisamos aproveitar o hype do momento dos assuntos. Mas sejamos inteligentes. Enquanto todos estão aí fazendo piadas com a cadeirada, tem um desgraçado conquistando e ganhando eleitores por conta desta situação que ele, premeditadamente planejou.

Enquanto continuarmos a ver esses alpinistas políticos como entretenimento — e não como uma ameaça à democracia —, continuaremos presos nesse ciclo de violência e enganação. E aí, o eleitor é que vai sair nocauteado nesta eleição.


Merecemos mais. E, definitivamente, merececemos menos cadeiradas.


Profundamente preocupado,

Bob Wilson

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