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Foto do escritorBob Wilson

Todo Palestrinha Tem Um "Q" de Mané


Irmão e Irmã … qual a reação de vocês frente ao descontentamento?

Cresci aqui nas regiões do Jd Suzana (na rua da feira da Igreja Imaculada Conceição Manja?), Jd. Santa Helena que fica um pouco mais pra frente (ali para o lado das mansões do laguinho). Mas pro mundão a gente fala que é de Interlagos mesmo. Da rua da feira do suzana, pra ser mais exato. Agora frente aos capotamentos da vida, estou de mudança para o butantã (papo pra outro dia). A feira do Suzana é onde geral dos bairros Jd Paquetá, Veleiros, Interlagos, Jd Ipanema, Capela do Socorro e Favela da Paz colam para fazer suas compras aos domingo e sentar pra comer pastel na pastelaria que vive cercada de crianças pedindo moedas para conseguir esse pastel tão desejado e querido do paulistano.


Crianças que enquanto a bancada das barracas de frutas servem as famílias da classe média fodida do bairro, o lixo por trás delas servem as crianças e famílias pobres dos mais variados bairros da região.

Uma das primeiras lembranças que eu tenho deste bairro é a imagem dessas crianças. Por conta delas, meu pastel nunca descia legal.


É difícil comer enquanto alguém a sua frente te encara com o estômago vazio.

Outra lembrança antiga que eu tenho é a dos “contras” que tirávamos com alguns filhos de feirantes e mulekes que vinham de bairros mais distantes como Grajaú, Cocaia, São José … Minha vó morava em uma rua sem saída ali No Jd. Suzana (perto da feira). Era (quase) clássico o “Contra das 10h” todo domingo (se não fosse o fato de que nem todo domingo essas crianças estavam lá reunidas. Uns porque tinham que trabalhar, e outros porque tinham que sair para alguma festa ou almoço de família e não podiam "sujar o Terninho").


Quando rolava, era o time da rua contra um catado de mulekes da feira e agregados. Meu time montado na chuteira e uniformes de times, enquanto nossos adversários colavam descalços, sem camisa e com sede. De água e de futebol.


Irmão e Irmã … qual a reação de vocês frente ao descontentamento?

Todos nascemos inocentes e imbecis. Somos forjados pelo meio em que vivemos, logo, no catado geral, aprendemos a ser egoístas, competitivos e gananciosos. A vida vai nos mostrando que existem outros caminhos. Caminhos que apresentam outros valores a serem cultivados. Se buscar sucesso e riqueza individual certamente poderá alcançar-los mas, ao mesmo tempo, matará o mundo e as suas relações genunínas aos poucos. Porém, se buscar o sucesso e a riqueza coletiva, pode não ter seus 5 carros na garagem, viagens intercontinentais, roupas do ano, ouro, mas, certamente preservará o mundo , suas relações e o seu legado para o hoje e sempre.


Somente uma espécie extremamente filha da puta deixa o planeta mais destruído do que quando o encontrou. Essa espécie é a Humana!

Irmão e Irmã … qual a reação de vocês frente ao descontentamento?

Vocês não conhecem, mas quem mora alí em um raio de 5km da feira, conhece o Leão. Um mano que fica andando pelos bairros do Jd. Suzana / Jd Paquetá solicitando moeda e tendo uns surtos esquizofrênicos (quem sabe o que ele tem na verdade?). A primeira ação de mudança efetiva que vi acontecer na rua da minha avó foi com ele.


Certa vez ele atrapalhou um dos contras com um dos seus surtos esquizofrênicos. Era comum naquela rua (e naquele bairro) alguns tratarem o Leão pior do que tratam os facistas do bairro. Um dos moradores da rua começou a xingá-lo, jogar água com uma mangueira e ameaçou bater nele com um rodo caso ele não fosse embora. Um motim espontâneo (guiado por um dos manos do outro time) se ergueu contra o morador da rua falando para tratar direito o Leão. Desfilou um exemplo de empatia, conhecimento de classe e se fechou pro morador sem dar tempo de resposta ao senhorzinho que, com os rabos entre as pernas, entrou para sua casa.


Irmão e Irmã … qual a reação de vocês frente ao descontentamento?

Precisamos criar uma onda de bons gestos e boas condutas. E não tô falando de se tornar um careta, burocrata, conservador, good vibes, hippie... Tô falando de praticar a caralha da empatia. Gerar amor. Entender que apenas palavras não bastam. Precisamos agir em prol das lutas que acreditamos.


Irmão e Irmã … qual a reação de vocês frente ao descontentamento?

Levanta a bunda da cadeira, cama ou sofá que você passa a maior parte do seu tempo sentado. Fecha seu notebook. Põe o celular no modo avião. Pega sua bicicleta, sk8, cachorro, raiva, felicidade... e vai pra rua conhecer seu bairro, seus vizinhos e suas histórias. Forme redes de contato, mapeie as ações culturais, educacionais e ambientais do seu bairro. Interaja com as ações que o tempo e a afinidade lhe permitirem interagir. Seja ponte. Transforme o seu descontentamento em uma ação revolucionária local para que está se junte a tantas outras e emerja em uma onda de empatia, amor e revolução.


 

Bob Wilson.


Escreva Para o Molotov Bairrista


Conte histórias do seu bairro sob o seu ponto de vista de como podemos construir

micro-ações bairrista para um mundo mais justo e sustentável.


envie um email para ediaeescrever@gmail.com com o Título "Molotov Bairrista". Anexe seu texto proposto, o bairro de onde fala e o nome com o qual assina os seus textos (ou se quiser assinar com um alterego de escritor ou escritora, valorizamos para esta publicação


Avaliaremos e, caso selecionado, publicaremos em nosso blog e redes sociais do É Dia De Escrever, Editora Questione e Diários de Viagem.





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