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Foto do escritorGattorno Giaquinto

Um Cruzeiro Pra Lá de Enjoado



(referência de imagens: mídia do WIX)

A mãe de uma grande amiga da minha época de solteirice, divorciada e descaradamente contra casamentos, era uma conselheira-mor de "Como Arrumar Namorado em Apenas 10 Dias". Dava conselhos para participar de grupos de poesia - que descartei de imediato, pois provavelmente não encontraria um namorado tipo homem- caverna por lá. Ou comprar aulas de tênis - para falar a verdade, fiz aulas por um mês, e o professor solteirão bem deu em cima de mim, sem resultados. Tive que parar com as aulas, depois que as desculpas esfarrapadas para não sair com ele acabaram. Até sair dirigindo com o número de telefone escrito num pedaço grande de papel, para ser mostrado pelo vidro do carro, caso o motorista do carro ao lado fosse interessante. Passei por isto, confesso.


Resolvi marcar um cruzeiro, seguindo sua sugestão. Segundo ela, choveriam bons partidos, endinheirados....bem, por certo com idade média além da que eu pretendia. Fazer o que? Se tá na chuva, é mesmo para se molhar, não? Pensando bem, chuva num cruzeiro não é para qualquer um. O balanço do mar causa enjôos (imagine o quadro: encontrando um candidato no jantar, e vomitando na mesa ou no colo do cavalheiro), vertigens, água da piscina transbordando, corpos jogados uns contra os outros (êpa, isto seria bom - se não fosse trágico: o candidato caindo e fraturando a bacia bem no momento agá).

Para completar o quadro, imagine este cruzeiro durante a pandemia do Covid-19, que exigiu quarentena no mundo todo. Sem poder atracar o navio nos portos, pela proibição dos países visitantes, para evitar possível contaminação pelo vírus. Navios à deriva, esperando para desembarcar todo mundo. Comida a ponto de acabar. Verdadeiro caos.


Naquela noite, completando o quadro caótico, uma chuva - pior do que o iceberg que afundou o Titanic, desabou sobre o navio. Embora todos mantivessem distância razoável, dentro do salão de refeições, o pânico foi tomando conta dos passageiros. O capitão pediu a atenção de todos, para seu discurso, tentando manter calma no ambiente. Na hora em que ele pegou o microfone, um relâmpago intenso clareia a sala, seguido do estopim de trovão semelhante ao rugir de vários leões famintos nas savanas africanas. O capitão leva um choque e cai, desmaiado, em frente a todos.

Tumulto geral, gritos pedindo: "tem algum médico a bordo por favor?". Sempre que viajo perguntam. Estou começando a achar que sou pé frio. Olho para um lado e para o outro, rezando para que um bom samaritano, com graduação neste ofício nobre, se ofereça para cuidar do corpo inerte. Nenhuma alma viva se acusa. Não tem jeito, vou fazer minha boa ação daquela viagem, jurando que nas próximas vou mentir quando comprar o pacote. Dizer que sou funcionária pública no Brasil. Na pior repartição, reconhecidamente inútil.


Uma roda de pessoas se forma em volta do capitão, peço para se afastarem. Examino o pescoço dele, para checar se tem pulso - carótidas batendo irregularmente, mas não tá morto, só desmaiado, em possível arritmia cardíaca. Proclamo que o caso é sério, dou instruções para uma pessoa aplicar massagem cardíaca enquanto eu, corajosamente, aplico respiração boca-a-boca. Duas bufadas para cada 30 massagens no peito. O povo em volta torcendo, apostando se ele vai acordar (a maioria) ou não.

Em certo momento, a prótese dentária sai da boca do massageado, quase me fazendo engoli-la - reprimo o vômito que chega na garganta. Dou uma de Good Doctor, empurro a dentadura para baixo, limpo minha boca com as costas de minha mão, e, heroicamente continuo a soprar boca a dentro.


Depois de momentos elétricos, os olhos do capitão abrem. O povo bate palmas freneticamente. Alguns dão tapinhas nas minhas costas, felicitando-me pela resuscitação do nosso capitão.


Alguém anuncia: "a chuva parou!" O capitão, meio desnorteado, pergunta: "Que chuva?"

 


(GIF do WIX)

 

Gattorno Giaquinto

Desafio #64: Tá Chovendo e Relampegando

1. Está o maior toró

2. Você está em um cruzeiro à deriva

3. Escreva um texto da hora que o capitão desmaia até a hora que a chuva para

 





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