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Foto do escritorGoretti Giaquinto

Um Dia Após o Outro


Fonte: Imagem da Internet/YouTube



Dia 01 do registro no diário do APOCALIPSE....

Depois da pane geral em 31/12/2024, a situação ficou caótica aqui em casa. Eu decidi escrever um diário porque estou meio revoltada com os acontecimentos recentes.  Preciso escrever para pensar melhor. Uso um caderno e caneta, pois estamos sem energia, em casa.

A tempestade solar que estava anunciada — e ninguém botava muita fé nisso —aconteceu, na virada do ano. Aqui em casa, todos atônitos, mal nos recuperamos dos fogos do ano novo. À meia noite em ponto, tudo ficou escuro. Minha mãe pediu calma. Meu pai se desesperou sem o ar-condicionado e o celular. Meu irmão ficou mudo e se trancou no quarto.

Estou assustada, apreensiva com o que vai ser de nossas vidas. Aos poucos essa história será contada, e você, que está lendo, entenderá o como essa notícia nos abalou. Talvez mude tudo o que estávamos acostumados a ter, ser e fazer. Poderá ser determinante para o início de uma nova era. Talvez. Se sobrevivermos.


Dia 02

Passados oito dias, ainda estamos sem comunicação. O que significa sem celular, sem TV, sem internet. A energia voltou. O sistema de backup analógico da rede de fios foi restaurado – certamente havia uma suspeita de que poderia acontecer algo, boatos muitas vezes têm algo de verdade. Não sei, e não importa. Viver sem energia elétrica seria o caos do caos – e assim foi nossa primeira semana, até hoje, que a energia foi restaurada.

Estávamos tão acostumados com a automatização propiciada pela internet, pelas comunicações permeadas através de satélites, pela globalização das informações! Parece que um tsunami varreu nossas vidas.  

Estamos passamos por um grande período de blecaute de toda a infraestrutura. Em todo o mundo. Ficamos sem tudo o que dependia da eletricidade, do wi-fi, satélites. Estamos tentando nos recompor.  Não temos mais botões ou teclas para ter as coisas à mão. Estamos engatinhando num plano para continuarmos a viver, enquanto não nos dizem o que acontecerá.


Dia 03

São 30 dias sem restabelecimento da infraestrutura que tínhamos antes. A tempestade solar piorou o calor que já estávamos sentindo com as mudanças climáticas.  Ventiladores e ar-condicionado são insuficientes para abrandar o calor. Sem falar no racionamento de energia imposto pelo governo, com receio de algo pior possa acontecer. Estamos alternando horários e dias com e sem energia. Também estamos com racionamento de comida, pois os supermercados fecharam as portas, com a insegurança desse momento.

Mesmo com todos os acontecimentos, ainda há quem pense ser uma fase passageira, e logo a inteligência artificial vai descobrir como fazer. Esquecem que até a IA precisa de internet, para buscar dados. Não basta a energia elétrica.

Nas ruas, vejo um movimento diferente do que estava acostumada. Muitos vizinhos que eu não conhecia estão descendo com cadeiras, ficando na calçada para se refrescar, e aproveitar para saber das notícias — até agora não temos o sinal da tv nem de telefones. Só meu irmão continua trancado no quarto. Só sai para comer. Há tempo não ouço a voz dele (antes mesmo, só nos comunicávamos com mensagens pelo WhatsApp.


Dia 04

Passados 60 dias da pane, o boca-a-boca (sistema que ouvia minha mãe falar, mas eu desconhecia) tem sido o meio de comunicação. Mesmo com isso, o medo de espalhar notícias falsas não melhorou, pois não há como pesquisar as fontes. Acho que vão ter de inventar algo contra notícias fake, ou as coisas vão sair do controle.

Vejo medo e desconfiança nos olhos das pessoas, mas ouço vozes que nunca escutei. Conheço histórias que nunca perguntei. Estou ficando a maior parte do tempo em conversas com meus pais e com os vizinhos. Alguns são simpáticos, outros continuam sem ser. Mas olhar em seus olhos muda ideias preconcebidas.

Não consigo escrever como gostaria, para deixar um relato desses acontecimentos tão extraordinários. Meus pais me contaram que, no tempo deles, não tinha internet e tudo se resolvia em conversas, em cartas. Parece que eles estão de boa com tudo isso.


Dia 05

Três meses sem TV, sem internet. Estou ouvindo até as batidas do meu coração. Não tenho celular para me distrair e faço as coisas com foco – como minha mãe diz, estou aprendendo a viver no presente. Seja lá o que ela esteja querendo dizer com isso. Espero que não seja uma premonição ruim.

Meu irmão está nervoso, perdido. Não escutamos as risadas dele, ele não tem mais assistido memes ou vídeos engraçados o dia todo. Por outro lado, ele e os amigos estão se visitando. Quando os colegas dele vêm para cá, minha mãe faz uma receita de bolo que minha avó fazia, quando eu era pequena, e todos amam.

Meu pai voltou ao trabalho assim que a energia retornou, mas diz que está tudo em ritmo muito lento, pois estava tudo na nuvem, e ainda não há como acessar. Nem sabem se vão recuperar todos os dados. Acho até que ele está mais tranquilo, mas o chefe dele disse que poderá haver cortes de pessoal na empresa. Ele disse que, se houver, iremos morar no sítio do vovô, no interior. Meu irmão disse que não vai.


Dia 06

Se passaram seis meses. As aulas retornaram, estamos usando lousa, giz, caderno e caneta. Quando meus pais diziam “na minha época...” eu e meu irmão nos entreolhávamos, rindo. Não parecia real. Agora, é.

Parece que “uma Mão Invisível” desligou o sistema lá em cima, quando viu o mundo de cabeça para baixo (já previam meus avós, quando éramos crianças).

Voltamos a ter, em casa, um aparelho esquisito, com algo que gira para fazermos uma ligação telefônica. Nada de celular nem internet, ainda. As TVS já conseguem transmitir alguns sinais locais, e os jornais impressos passaram a circular, para atualizar-nos dos acontecimentos. A tinta sai nos dedos. Eu ainda não me acostumei. Mas, paciência, é o que temos pra hoje.

Dizem que estão enviando outros satélites para o espaço. Alguns dizem que é notícia falsa, pois os países estão em recessão. Não sei se acredito. Não está bom, mas não está tão ruim. Voltamos a pelo menos fazer uma refeição na mesa, todos juntos. Às vezes dou muitas risadas.

 

Dia 07

Hoje, 31/12/2025, estamos todos em casa, para a virada do ano.

Ainda não temos internet, celular, e alguns satélites estão sento levados para o espaço. Prometem que tudo voltará a ser como antes, em seis meses. Não sei se tudo.

Aqui em casa, nem tudo está como antes. No início, muitas discussões. Poucos diálogos. Só conversávamos por textos curtos ou monossílabos distraídos. Foi preciso reinventar toda a nossa vida, para sobrevivermos a esse período quente e caótico.

Apesar de tudo, a paz voltou a reinar — minha mãe diz, quando respondemos a ela com um parágrafo inteiro sonoro. É um pequeno avanço, mas um grande salto para a convivência familiar. Agora sabemos como éramos. Entendemos o que nossos pais reclamavam, da falta de comunicação. O mundo inteiro perdeu a comunicação, de repente, e precisou se reinventar. Não só nós.

Enquanto espero a contagem regressiva, escrevo. Há uma incógnita no futuro. Nem sabemos se haverá outra surpresa da “Mão Invisível”. Mas tenho certeza de uma coisa: a verdadeira comunicação ressuscitou. Até meu irmão entrou nessa. Amém.



Desafio # 13

Tema: Diário distópico

Título: Um Dia após o Outro

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