top of page
AD.png
Foto do escritorBob Wilson

Você Assiste Paralimpíadas?

Atualizado: 29 de ago.

Olá Leitores e Leitoras,


Sempre digo que para (tentar) ser uma pessoa o mais consciente socialmente possível (porque duvido que alguém seja um ser social perfeito), precisamos vivenciar lugares, experiências e nos relacionar com os/as mais variadas situações, lugares, experiências e pessoas.


Procuro me cercar de pessoas pretas, indígenas, com deficiência, frequentar festas e eventos nas periferias, experimentar variados tipos de culinárias, culturas e quando o dinheiro me permite, visitar os locais mais absurdos de diferentes possível.


Estas vivências é o que me educam e ampliam meu conhecimento cultural e social e fazem de mim um ser que compreende que meu umbigo e minhas convicções não são regras para nada nesse planeta.


Trago essa introdução porque estou deveras empolgado com o início das paralimpíadas amanhã (27/08/2024), às 15h. Nem mais e nem menos empolgado do que estive com as olimpíadas. Só empolgado na medida certa (Aquela que me faz perder horas de sono e colocar a mesa do escritório na frente da TV).




Esse espetáculo esportivo que, por um milagre da hipocrisia, só aparece na agenda dos "defensores da inclusão" uma vez a cada quatro anos. Porque, convenhamos, quem tem tempo para assistir atletas com deficiência conquistarem medalhas quando o capítulo de ontem da minha novela de playboy (séries) terminou com um "cliffhanger", não é mesmo?


Fico só reparando como aqueles com o famoso discurso da "superação" são os primeiros a abandonar esse barco.


Superação! Parece até que a palavra nasceu e cresceu só para ser usada quando alguém com deficiência faz algo minimamente normal. Fulano é cego e foi à padaria sozinho? Que superação! Sicrana tem uma perna só e foi trabalhar de metrô? Que inspiração! Mas, quando esses mesmos Fulano e Sicrana conquistam medalhas, quebram recordes, e fazem coisas que nem metade da população sem deficiência conseguiria fazer, cadê a superação? Cadê a inspiração? Sumiu, foi ali assistir o final da série e já volta. Só que não volta.


Para quem não sabe, as Paralimpíadas de 2024 começam no dia 28 de agosto e vão até 8 de setembro. Espero, no mínimo que até os carros parem no meio da avenida, as buzinas fiquem em silêncio, quero ver os porteiros dos prédios com a TV da portaria ligada para assistir, criançada reunida nas escolas, #hashtags sobre as paralimpíadas bombando por aí... porque nossa delegação merece minha gente. Se é medalhas que vocês gostam, é nas paraolimpíadas que o Brasil mostra sua potência.


A delegação brasileira, sempre foi motivo de orgulho. Em Tóquio 2021, o Brasil brilhou com 72 medalhas, sendo 22 de ouro, e terminou na 7ª posição no quadro de medalhas. Em 2024, as expectativas são altas novamente. A meta é ficar entre os 5 países que mais vão ganhar medalhas. É todo dia fotinho no insta de atletas medalhados. Entre as estrelas da delegação, temos a gigante Carol Santiago, nadadora com deficiência visual que, em Tóquio, trouxe cinco medalhas para o Brasil, três delas de ouro. Ela já é considerada uma das maiores nadadoras da história do país.



Se você não sabe quem ela é, não se sinta mal. Não saber quem são nossos atletas paralímpicos é mais comum do que seria aceitável.



O Brasil também é uma potência no futebol de 5, esporte para deficientes visuais. Somos pentacampeões paralímpicos, um feito que nem o time de futebol convencional conseguiu! A equipe brasileira é imbatível e é favorita ao ouro mais uma vez. E quem sabe disso? Os mesmos poucos que sabem o nome do goleiro reserva da seleção de futebol que perdeu nas quartas de final da última Copa do Mundo.


Não que não conhecer nada nem ninguém torne você essa pessoa, mas se você não conhece, é bom começar a conhecer e entender o capacitismo, essa praga social disfarçada de "boas intenções". Capacitismo é o preconceito e a discriminação contra pessoas com deficiência, baseado na crença de que elas são inferiores ou incapazes. É como se viver com uma deficiência fosse um fardo a ser suportado ou, pior ainda, algo a ser superado. E o problema, meus caros, é que o capacitismo não é combatido apenas com rampas de acesso, com vagas exclusivas no estacionamento, com rezas ou coachs. Ele é combatido no dia a dia, nas palavras que usamos, nas atitudes que tomamos, e no reconhecimento que damos as Pessoas Com Deficiência. Nós, pessoas SEM deficiência, precisamos ser aliados nesta luta. Repetindo para vocês não confundirem, precisamos ser ALIADOS. Não se trata de pegar o protagonismo da luta para si ou querer ser o santo ou a santa que vai salvar a todos e todas Pessoas com Deficiência. É se colocar a disposição da luta. Deixar com que as direções, objetivos e metas sejam definidas pelas Pessoas com Deficiência, e você, só vai somar nisso.


A valorização do atleta com deficiência não pode ser só um momento fugaz de palmas tímidas quando aparece um vídeo de 30 segundos no Instagram. E também não pode se resumir a um elogio exagerado quando alguém faz algo corriqueiro. Para combater o capacitismo, precisamos que as pessoas sem deficiência sejam aliadas de verdade. Que estejam lá, nas arquibancadas físicas ou virtuais, torcendo, aplaudindo, conhecendo e divulgando as histórias desses atletas. Porque eles são atletas de verdade, que treinam duro, que competem, que ganham e perdem como qualquer outro. E quando vencem, suas vitórias são tão dignas de celebração quanto qualquer outra.


Então, caros leitoras e leitores, vamos abandonar nossas séries, novelas por um instante, ligar nossa Tv ou youtube ao lado dos nossos computadores de trabalho, ou aí no seu local de labuta e dar uma olhada nas Paralimpíadas? Porque, quem sabe, ao assistir, você ajude o planeta a superar algo também: a ignorância sobre o que é ser um atleta com deficiência e o quão pouco nós sabemos sobre isso.


Ansioso Pelas Paralímpiadas,

Bob Wilson

Quer ler mais?

Inscreva-se em ediadeescrever.com.br para continuar lendo esse post exclusivo.

0 comentário

Posts Relacionados

Ver tudo

Comments


bottom of page